sexta-feira, 27 de julho de 2012

Santos-Dumont, Júlio Verne e o primeiro astronauta brasileiro

Por Clayton Ribeiro

A ligação entre o inventor brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932) e o escritor francês de literatura científica, Júlio Verne (1828-1905), é maior do que geralmente se pode imaginar.


Imagem de Santos Dumont - (Fonte: www.culturabrasil.pro.br/)

Os livros de Júlio Verne estavam, com certeza, entre as obras mais lidas pela juventude brasileira nas décadas finais do século XIX. Como o valor dos livros era bastante elevado nesse período, somente as classes abastadas tinham acesso a esse recurso cultural. Entre os brasileiros, livros como "Cinco semanas em um balão" (1863), "Vinte mil léguas submarinas" (1870), "A volta ao mundo em 80 dias" (1872), eram consideradas obras educativas e que despertavam o interesse dos jovens pela ciência e pelo estudo, acreditavam os seus pais. (FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso, 1957)


Júlio Verne (Imagem: www.portaldoastronomo.org/)

Com Santos Dumont não foi diferente. Leitor costumaz de Júlio Verne, principalmente, dos livros "Cinco semanas em um balão" e "A volta ao mundo em 80 dias", Santos Dumont pode ter sido influenciado indelevelmente pelos personagens impetuosos e desbravadores da narrativa do escritor francês.

No primeiro dos livros citados ("Cinco semanas...), a temática é nada menos que a busca das nascentes do Rio Nilo, objetivo acalentado por muitos cientistas do século XIX, mas que foi apenas descoberta em 1858 pelos naturalistas ingleses Richard Francis Burton e John Hanning Speke. Em "A volta ao mundo em 80 dias", não havia um interesse propriamente científico e toda a narrativa do livro está envolta em uma grande aventura por vários países e culturas diferentes. Nos dois livros, assim como em outros de Júlio Verne, quase sempre o prêmio pelo êxito dos aventureiros era uma gorda quantia em dinheiro, além do prestígio de ter realizado um grande feito, é claro...

Desse modo, analisando retrospectivamente a vida de Santos Dumont, pode-se dizer que o seu lado aventureiro, ao estilo dos personagens de Júlio Verne, se tornou o traço mais forte de sua personalidade e do seu estilo de vida. Assim, o que o movia não era o interesse específico pelo avanço da ciência, mas a vontade de vencer os seus próprios limites, assim como os das máquinas que construía.


Imagem do "14-Bis" - Fonte: www.megaarquivo.com/

Em 2006, no centenário do primeiro vôo de Santos Dumont no seu avião ("14-Bis"), um brasileiro (Marcos Pontes), nosso primeiro astronauta, decolou para o espaço em uma nave russa (Soyuz-TMA-8), no Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, em missão internacional. A viagem de Pontes marcou oficialmente o grande feito de Santos Dumont, cem anos antes...homenagem mais que representativa e correta...nosso astronauta fez essa façanha em um país distante, mais como um aventureiro do que como um cientista...uma aventura que trouxe mais glória pessoal do que coletiva...valeu Pontes...Valeu Dumont...


Imagem: wikipédia.