quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Brasil na Olimpíada

Parte I

Por Emanoel Richardson

A cada quatro anos é a mesma coisa. Jogos Olímpicos. Esperanças de medalhas para o Brasil. Torcida pelos brasileiros. Decepções. Algumas alegrias. Perguntas. Repostas prontas. Porque o Brasil vai tão mal nas Olimpíadas? Esses brasileiros amarelam demais...

Sendo bem sucinto e sem análises demasiadas profundas, como deveria ser, vejo alguns fatos.


Imagem: www.reiventando-se.blogspot.com.br

Os jogos Olímpicos são o maior evento esportivo do mundo, visto a cada quatro anos por mais de 4 bilhões de pessoas pela TV. Foi o grande impulsionador do crescimento do esporte pelo mundo. Hoje mais de 200 países participam dos jogos. O COI (Comitê Olímpico Internacional) tem mais filiados do que a ONU.

No Brasil o investimento no esporte sempre foi pífio. Nos dias de hoje, até que o esporte de alto nível tem dinheiro (não é mais tão comum, como em outros tempos, atletas mendigarem para irem a mundiais ou deixarem de participar por não ter verba). A própria Sarah Menezes conta com uma estrutura bem razoável, vivendo e treinando no Piauí. Essa merece todas as homenagens até 50 anos pra frente!

O grande problema é que não se tem um sistema desportivo que promova a massificação e a seleção dos talentos que vão chegar a esse alto nível. Ainda vivemos de alguns potenciais descobertos. Quantas crianças no Brasil tem contato com esportes que não o futebol e futsal, esportes onde nosso país tem excelência?

Todos os países de grande resultados têm sistemas desportivos que massificam os esportes. Isso não significa ter dinheiro: Quênia, Etiópia e Jamaica são países paupérrimos, mas todas as crianças correm na escola ou mesmo pra frequentá-las. Os países do antigo bloco socialista, dos quais remanescem Cuba e China, mesmo depois da transição para o capitalismo mantém sistemas desportivos baseados nas escolas de esporte. Nos estados unidos o sistema educacional é responsável pela descoberta de atletas do ensino fundamental à universidade. No Brasil pela questão cultural, em certo momento o futebol se tornou dominante, toda criança “joga bola” desde cedo. Lógico, da massificação se descobre os talentos. Isso não ocorre com os demais esportes. Quem já praticou atletismo, ou ginástica na escola? Quantas escolinhas de natação ou judô existem em cidades do interior? Temos piscinas públicas?


Imagem: www.imagensengracadas2.com/

A monocultura do futebol, perpetuada pela mídia: todos sabem o nome do zagueiro reserva do Madureira, mas nesses jogos olímpicos tem um atleta que faz todas as provas de todos os esportes, é “o brasileiro”. Só se ouvem os narradores dizerem: daqui a pouco vai competir o brasileiro!

Nossa “Imprensa esportiva” passa anos e anos ignorando os esportes e os atletas que não estão no “brasileirão”. Aqui ou acolá fala um pouco de algum esporte que esteja na evidencia, como o voleibol, mas não há um acompanhamento sistemático ,como ocorre com os grandes times de futebol do sudeste que são mencionados todo dia, nem que seja pra dizer que treinaram e um olhou de cara feia para o outro. Ora como é que as pessoas vão gostar do que não conhecem? Tudo bem que o público ame futebol, mas por que não mostrar os demais esportes? Em outros lugares do mundo vê-se estádios cheios em vários esportes ao mesmo tempo!

O professor Emanoel Richardson é formado em Educação Física e leciona no IFPI-Uruçuí. Obrigado por mais esse artigo!!

Um comentário:

  1. Essa questão da participação do Brasil nos jogos olímpicos parece a história do cachorro correndo atrás do rabo.
    Acredito que é um problema que envolve vários fatores. Um deles é de ordem cultural. O brasileiro tem vocação para os esportes coletivos, futebol e volei. Só que como nós sabemos, as tradições elas são inventadas. Pois nem o futebol, nem o volei foram inventados aqui. É da prática cotidiana que nascem as tradições.
    Tudo passa pela escola. Não apenas para tornar o Brasil um país olímpico, mas para possibilitar que o brasileiro possa exprimir todo o seu potencial é importante um pesado investimento na educação.
    Todos os países que são poliesportivos, onde os jovens podem escolher a prática dos mais variados esportes, também são países que oferecem possibilidades múltiplas ao cidadão. Acho que aí é onde o Brasil tem que se espelhar.
    Um grande investimento governamental na formação de professores e aparelhamento das escolas para a prática esportiva. A realização de campeonatos estudantis e a cobertura da imprensa podem despertar o interesse para as mais diferentes modalidades.
    Falando em cobertura da imprensa, hoje isso não é uma barreira tão intransponível para outros esportes que não o futebol. A própria ESPN tem alguns programas dedicados a cobertura de outros esportes. Há um programa chamado "Histórias do Esporte". Nesse programa eu conheci dois futuros medalhistas olímpicos. O Arthur Zanetti e a Yane Marques.
    Mas hoje, há canais alternativos. Tem o facebook, o youtube, dentre outros. As federações podem produzir o seu próprio material e divulgar.
    Emfim, pra transformar o país numa nação olímpica é necessário vários agentes e podemos nos incluir dentre eles.
    Grande abraço.

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