quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pau de arara ou o abandono dos sertanejos.

Por Clayton Ribeiro

Se existe uma instituição democrática no Piauí, de norte a sul, é com certeza o pau de arara. Em minhas viagens de Teresina a Uruçuí, no sul, e de Teresina a Piripiri, no norte, sempre encontro mais do mesmo: o velho transporte coletivo, popular, ventilado, barato, objetivo. De tão popular, o pau de arara já se tornou invisível. Ele é quase um pé de pequi no Cerrado ou um coqueiro na praia. Figuras banais e paisagísticas. Muitos casamentos aconteceram por causa dele. Lado a lado, olho no olho, conversa vai, conserva vem; de repente...começa um romance. Eu me pergunto: quantas dívidas com Deus não foram pagas por meio desse transporte coletivo nas romarias para o Juazeiro do Norte, no Ceará, ou, no Piauí, em Santa Cruz dos Milagres, 180km de Teresina? Bom, até parece uma coisa boa, mas só parece...


Imagem do pau de arara, crédito da imagem: wikipédia.

Na verdade, o pau de arara é o símbolo do abandono de um povo, de uma gente simples, sofredora. Mesmo as raças bovina, suína e equina, quando transportadas, são melhor tratadas. Há uma preocupação com o excesso de estresse desses animais. Em suma, o pau de arara não é presença, é ausência...

Os prefeitos, os maiores responsáveis pela manutenção desse sistema de transporte arcaico, juntamente com o governo estadual - outro irresponsável-, colaboram, ambos, para a perpetuação do pau de arara. Ora, como depois de décadas, viagens entre cidades não viraram linhas de coletivo? Caminhões improvisados não viraram ônibus ou vans? Transportados não viraram passageiros? Por que a lona não virou cobertura?

O transporte intermunicipal é de interesse público, não somente das linhas que dão retorno financeiro. Quando não há esse estímulo privado, o governo obrigatória - e moralmente - deveria assumir tal serviço. Mas, em época de eleição...vc lembra de ter visto gente sendo carregada de pau de arara? Eu não lembro...nesse período, vans cortaram as estradas de terra com passageiros-eleitores...a paisagem muda. Assim, fica claro que o problema é de vontade política. No fundo, o invisível da história não é o pau de arara, mas o cidadão.

Obs: Segundo Câmara Cascudo, pesquisador da cultura popular, o termo pau de arara faz alusão à prática de se carregar papagaios e araras em varas, amarrados, alvoroçados, frenéticos.

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